sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Africanos, os "escravos da Guiné"



     Neste capítulo, o autor diz que o trafico começa a se avolumar a partir do segundo quartel dos Quinhentos, quando a maioria dos escravos saia da Guine-Bissau, Senegâmbia e África Central. Nesta época, o principal destino dos escravos ainda eram as ilhas atlânticas (Madeira, Canárias), a metrópole e as índias de Castela, principalmente o Peru. Com isto inicia um dos negócios mais rentáveis do período colonial que é a intensa acumulação de bens e troca de mercadorias nas sociedades africanas. Ocorrendo na África Central muito antes dos descobrimentos.
     Outros estudos também têm evidenciado a importância intra continentais africanas e a variedade de produtos europeus, americanos e asiáticos importados pelo continente negro. O que facilitava a penetração dos europeus e habilidade nas comercializações e escambos dos produtos eram os conhecimentos geográficos e históricos que eles tinham sobre os rios da localidade. Escravos por volta de 1618 não era comercializado devido a um decreto de um criador de gados da vizinhança, onde ele diz que naquela região não costumavam vender uns aos outros. Com a entrada dos portugueses é que vai desestabilizar as comunidades nativas da área e empurrá-los para o trato de escravos português, brasílico e brasileiro. O que vem acontecer no ano de 1820 é a continuidade de trafico de escravos, onde os portugueses de Benguela organizam-se num movimento sedicioso para aderir ao Império do Brasil.
     Dos produtos mais utilizados como exportação, sem dúvida o escravo era o mais importante, mas junto com ele tinha o ouro, o marfim da Alta Guiné, o âmbar (uma resina fóssil muito usada para a manufatura de objetos ornamentais), cera, almíscar, couro, goma-arábica, noz de cola, cobre e pimenta malagueta. Entre as mercadorias europeias importadas, duas tinham impacto direto na produção mercantil de escravos, que eram os cavalos e as armas de fogo. Cinquenta anos mais tarde a relação cavalo-escravo foi perdendo sua força, mas o escambo continuava e um cavalo errado podia valer de nove a quatorze escravos.
     Reflexos dos conflitos étnicos e religiosos que sacudiam o litoral árabe e o Sudão, traficantes mouros oferecem escravos pagãos em troca dos muçulmanos capturados pelos portugueses. Tal forma de escambo confere princípios evangelizadores ao tráfico. Diziam quem os negros não vinham da linhagem de mouros, mas sim de gentios, o que seria mais fácil trazer para o caminho da salvação.
     Consideravam justa a posse e o comercio de negros, visto que muitos deles deportados de Portugal, se tornavam cristãos. Muitos negro e guinéus eram tomados a força e trocados por mercadorias não proibidas ou comercializados por legítimos contratos, foram levados para reinos  onde grande parte deles foram convertidos a à fé Católica. 
     O autor diz que narrativas contam da estranheza da fauna e os rigores do clima que ampliam o caráter antropomórfico e desnaturante das perversões atribuídas ao continente negro. No mesmo registro, canibalismo e guerras intertribais parecem justificar o tráfico negreiro. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII Por Luiz Felipe de Alencastro

     No texto lido o autor nós convida a pensar a formação do Brasil nos tempos coloniais de uma outra forma. A partir dali pensamos na formação do Brasil fora do Brasil entre 1500 e 1700, sendo que a estrutura mercantilista do Brasil é montada pela coroa portuguesa para se apropriar do excedente colonial do Atlântico Sul. A forma com que ele trata do assunto torna a leitura gostosa e instigante.
     A obra de Alencastro é uma conexão de muitas interpretações que constrói uma perspectiva procurando pensar as vinculações entre Portugal e os territórios ultramarinos, incorporando a política, a administração e a religião. Tecendo assim no espaço do Atlântico na relação de trocas mercantis a formação do Brasil a partir do tráfico negreiro, que é a chave explicativa ou o paradoxo histórico, tratando o tempo todo da colonização portuguesa baseado na relação escrevista que se situa na América e na África. 
    Vale lembrar que se opera a passagem de uma economia de coleta, baseada no trabalho indígena e no corte de pau-brasil, para uma economia de produção fundada nos engenhos de açúcar e no escravo africano. Os laços da Colônia com o Atlântico são pelas ordens régias embaraçando o acesso ao trabalho indígena e estimulando o tráfico negreiro, como também pelas medidas freando as trocas entre as capitanias. 
     No contexto do tráfico negreiro "a grande miragem interpretativa da analise de Alencastro consiste no argumento de que o tráfico atlântico de africanos modifica de maneira extraordinária o sistema colonial, pois desde o século XVII interesses luso-brasileiro, ou melhor dizendo, brasílicos, se cristalizam nas áreas escravistas sul-americanas e nos portos africanos. Carreiras bilaterias vinculam diretamente o Brasil à África Ocidental".
     O sistema de exploração colonial português seria assim no Atlântico Sul unificado, compreendendo nos dois lados do mar como se entre eles não houvesse interrupção. De um lado, o do Brasil, enclaves de produção: os engenhos de açúcar, as minas de ouro, os rebanhos bovinos, fundada no trabalho escravo e no outro, áreas nas quais se produzia e reproduzia a mão-de-obra servil. As decisões políticas da Coroa seriam tomadas, consciente e às vezes inconscientemente, a partir da convicção de que sem Angola, isto é, sem o escravo negro, não seria possível manejar o Brasil e sem o Brasil não havia razão para Angola. Não podemos entender o que se passava no Brasil, sem saber como ia em Angola, ou vice-versa. As histórias dos dois países compondo durante três séculos uma só história.