quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII Por Luiz Felipe de Alencastro

     No texto lido o autor nós convida a pensar a formação do Brasil nos tempos coloniais de uma outra forma. A partir dali pensamos na formação do Brasil fora do Brasil entre 1500 e 1700, sendo que a estrutura mercantilista do Brasil é montada pela coroa portuguesa para se apropriar do excedente colonial do Atlântico Sul. A forma com que ele trata do assunto torna a leitura gostosa e instigante.
     A obra de Alencastro é uma conexão de muitas interpretações que constrói uma perspectiva procurando pensar as vinculações entre Portugal e os territórios ultramarinos, incorporando a política, a administração e a religião. Tecendo assim no espaço do Atlântico na relação de trocas mercantis a formação do Brasil a partir do tráfico negreiro, que é a chave explicativa ou o paradoxo histórico, tratando o tempo todo da colonização portuguesa baseado na relação escrevista que se situa na América e na África. 
    Vale lembrar que se opera a passagem de uma economia de coleta, baseada no trabalho indígena e no corte de pau-brasil, para uma economia de produção fundada nos engenhos de açúcar e no escravo africano. Os laços da Colônia com o Atlântico são pelas ordens régias embaraçando o acesso ao trabalho indígena e estimulando o tráfico negreiro, como também pelas medidas freando as trocas entre as capitanias. 
     No contexto do tráfico negreiro "a grande miragem interpretativa da analise de Alencastro consiste no argumento de que o tráfico atlântico de africanos modifica de maneira extraordinária o sistema colonial, pois desde o século XVII interesses luso-brasileiro, ou melhor dizendo, brasílicos, se cristalizam nas áreas escravistas sul-americanas e nos portos africanos. Carreiras bilaterias vinculam diretamente o Brasil à África Ocidental".
     O sistema de exploração colonial português seria assim no Atlântico Sul unificado, compreendendo nos dois lados do mar como se entre eles não houvesse interrupção. De um lado, o do Brasil, enclaves de produção: os engenhos de açúcar, as minas de ouro, os rebanhos bovinos, fundada no trabalho escravo e no outro, áreas nas quais se produzia e reproduzia a mão-de-obra servil. As decisões políticas da Coroa seriam tomadas, consciente e às vezes inconscientemente, a partir da convicção de que sem Angola, isto é, sem o escravo negro, não seria possível manejar o Brasil e sem o Brasil não havia razão para Angola. Não podemos entender o que se passava no Brasil, sem saber como ia em Angola, ou vice-versa. As histórias dos dois países compondo durante três séculos uma só história.


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